domingo, 1 de setembro de 2013

BLUMENAUENSES PRESOS NA BOLÍVIA PEDEM AJUDA ÀS AUTORIDADES COM AUXÍLIO DA ADVOGADA ROSANE MARTINS


Na semana em que houve substituição do Ministro das Relações Exteriores e de diplomatas brasileiros na Bolívia, por estarem envolvidos no pedido de asilo político do senador de oposição Pinto Molina no Brasil, brasileiros presos naquele país pedem ajuda às autoridades brasileiras

Os brasileiros Jean Carlos da Silva e Carla Roberta Lehmkuhl, naturais de Blumenau (SC), que residem legalmente em La Paz (Bolívia) desde maio de 2010, estão presos de forma arbitrária no país vizinho e pedem ajuda as autoridades brasileiras para voltarem ao Brasil. Eles foram presos em dezembro de 2012 acusados de “uso indevido de influências em benefício e razão do cargo”. Jean foi levado para uma prisão de segurança máxima e a esposa, Carla, permanece em prisão domiciliar, ou seja, não pode voltar para o Brasil. No processo, no qual eles são acusados, mais 16 pessoas haviam sido indiciadas e já foram absolvidas ou libertadas. Para os brasileiros já foram marcadas 15 audiências e todas elas não aconteceram por “motivos fúteis”.

De acordo com a advogada Rosane Magaly Martins, contratada pela família no Brasil, no dia 30 de agosto, inclusive, o fiscal de matéria e diretor funcional das investigações da Fiscalia Especializada em Persecucíon de Delitos de Corrupcion do Departamento de La Paz (cargo que se iguala ao promotor público no Brasil), Aldo R. Ortiz Troche, que entrou com a denúncia contra os brasileiros, foi afastado do cargo acusado de corrupção no último dia 30 de agosto. “E mesmo assim não vejo nenhuma ação para resolver o caso dos brasileiros”, afirma.

A advogada esteve na semana passada, dias 28, 29 e 30 em Brasília, e apresentou o caso para o líder da bancada catarinense na Câmara de Deputados, Marco Tebaldi, ao deputado federal Décio Lima, ao presidente da comissão das Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço, no Itamaraty para o diplomata secretário Marcelo Ferraz. Participou de reunião na Embaixada da Bolívia com o embaixador Jerjes Justiniano Talavera, além da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

De acordo com Rosane, conforme o Código Penal da Bolívia, somente se podem ser acusados pela prática deste delito, pessoas que estejam no cargo de funcionários públicos, e eles, como estrangeiros jamais ocuparam cargo público além de não haver prova alguma nos autos, de que tenham cometido os delitos indicados.

A família acredita na inocência do casal e afirma que “se os brasileiros tiverem cometido algum delito devem responder por eles”. Porém, não da forma como está ocorrendo. Rosane conta que Jean estava preso até três meses atrás na Penal de Segurança Máxima de Chonchorro, para onde são levados os ladrões e os assassinos. Por apresentar vários problemas de saúde decorrentes da prisão prolongada (hipertensão, problemas cardíacos, pulmonares, gástricos e com depressão), Jean está internado desde junho de 2013 na Casa de Saúde San Miguel, com guardas que fazem vigia 24h.

Conheça mais detalhes

A empresa brasileira Global Forest, para a qual o casal trabalhava, contratou dois advogados bolivianos para cuidarem do caso, que se arrasta pelo Judiciário daquele país por quase 9 meses consecutivos, onde 15 audiências designadas e apenas uma realizada (em 18 de agosto, onde foi indeferido novamente seu pedido de liberdade) e as outras 14 suspensas por articulação do Ministério Público e membros do governo, que não têm interesse em esclarecer o caso, por envolver membros do alto escalão do Governo de Evo Morales.

A família blumenauense - até a internação de Jean Carlos da Silva, não tinha muitos detalhes acerca do caso pois ele estava incomunicável em Chonchocorro e agora está em completo desespero. Já solicitaram ajuda para a Embaixada do Brasil na Bolívia, da Bolívia no Brasil, mas nada de concreto foi feito em favor destes brasileiros.

A família não quer que seja libertado um criminoso (seu filho Jean), mas sim sejam libertadas as pessoas que foram para aquele país em busca de trabalho e uma boa remuneração, e que não possuem patrimônio, são pessoas simples filhos de pessoas simples de Blumenau e que os direitos humanos assim como as regras sejam aplicadas à todos os 18 envolvidos e não apenas contra os dois brasileiros.

Jean e Carla estão totalmente desprovidos de qualquer apoio efetivo do Governo Brasileiro, pois já recorreram a embaixada em La Paz, que deixa claro que nada se pode fazer, pois eles são apenas um entre muitos brasileiros presos naquele país e por isso não podem fazer nada.

Será necessário que o Governo Brasileiro, através de suas autoridades competentes (Ministério da Justiça, do Itamaraty, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e da Embaixada Brasileira na Bolívia), exija do Governo Boliviano que o Judiciário do país vizinho deixe de tratar casos envolvendo brasileiros com descaso, permitindo diversas irregularidades, como as sucessivas suspensões de audiências, não observância do devido processo legal, da falta de materialidade do delito e da impossibilidade de que um estrangeiro possa ser parte passiva numa ação criminal por uso indevido de influência e benefício em razão de cargo sem que nem funcionário público sejam (artigo 146 e 147 do Código Penal da Bolívia e Lei 004/2010).

Os advogados bolivianos contratados para a defesa de Jean e Carla possuem documentação que pode comprovar tais irregularidades e ações ilegais feitas por autoridades da Justiça Boliviana.

 Bolivianos que ocupam cargos públicos, denunciados na Resolucion de Imputación 28/2012e que estão em liberdade:

- Marcos Farfan Farjat, ex vice- ministro de Régimen Interior del Ministério del Gobierno da Bolívia;
- Boris Villegas Rocabalo (ex-diretor), Denis Efrain Rodas Limachi (ex assessor jurídico del Ministerio de Gobierno), Rodrigo Limpias, Paolo Peredo (advogado), funcionários do Ministério do Governo
- Carlos Antonio Fiorilo Cruz, investigador
- Pablo Patiño Cuba, tenente de la policia e investigador designado
- Jesus Quicaña Patiño, investigador
- Julia Parra, juíza segundo de Instrucción em lo Penal
- Rolando Sarmiento, ex juiz noveno de Instrucción em lo Penal
Marcos Farfan Ex Viceministro Régimen Interior del Ministerio de Gobierno
Boris Villegas Rocabado Ex Director de Régimen Interior
Julia parra Condori Ex Juez Segundo de Instrucción en lo Penal
Rolando Sarmiento Ex Juez Noveno de Instrucción en lo Penal
Denis Efrain Rodas Limachi ex asesor jurídico del Ministerio de Gobierno
Pablo Patiño Cuba Tnete. de la Policía  e investigador asignado.

E outros funcionários não citados da Autoridade de Bosques e Terras da Bolívia


RESPOSTA DO CONSULADO EM LA PAZ


O vice-cônsul da Embaixada Brasileira em La Paz, Pedro Maciel, informou à família por e-mail (recebido em 18/08/13) que acompanha o desenrolar do caso via assessoria jurídica e que foram feitas duas visitas (nos nove meses em que estão presos) aos brasileiros com vistas a acompanhar o tratamento dado pelas autoridades carcerárias aos dois. Pedro Maciel acredita que o caso toma proporção política no país e que talvez os absolvidos voltem a ser presos – no caso, os funcionários corruptos do governo de Evo Morales.

O vice-cônsul disse ainda que o assessor jurídico da Embaixada, Dr. Miguel Blancourt, mantém contato com o atual advogado do casal, senhor Ramiro Veja. Sugeriu ainda que denuncie as movimentações escusas dentro do Judiciário pois auxiliaria a Embaixada no sentido de fazer com que o processo se desenrole.

O próprio vice-cônsul confessa no e-mail que o desempenho do judiciário boliviano é falho, pois os tribunais, em razão da burocracia e da falta de preparo de seus titulares, enfrentam dificuldades com relação ao tratamento da justiça. A falta de recursos e de preparação acadêmica prejudicam ainda mais o caso.

Nesse contexto, a Embaixada se comprometeu em fazer levantamento para enviar nota à Chancelaria de La Paz, autoridade interlocutora de missões diplomáticas, relatando todos os casos de brasileiros detidos na Bolívia que tenham o processo, de alguma forma, emperrado. 

A versão de Jean Carlos da Silva é outra. O advogado da Embaixada Brasileira o visitou duas vezes no Penal de Chonchocorro, uma para saber o motivo da detenção e outra para entregar uma cesta de natal.  A última visita foi na clínica onde está internado, onde permaneceu por duas horas apenas. O advogado que é boliviano e presta assessoria para embaixada brasileira comentou com Jean que a detenção foi ilegal, mas nada vez para auxiliar ambos.

Depois disto a Embaixada Brasileira tencionou intermediar um acordo com a parte contrária e solicitou o pagamento de R$ 2 milhões de dólares para arquivar o caso. Jean e Carla descobriram que funcionários da embaixada brasileira têm relações de amizade com a sogra de Jefferson Cirilo, já que a mesma promove eventos para embaixada e para os brasileiros.

O advogado do casal já divulgou em nível nacional as irregularidades desde caso, inclusive foi feita uma denúncia contra a senadora opositora do governo, Sra. Carmem Eva Gonzales e a outras autoridades por estar violando o direito dos brasileiros, divulgando vídeos editados que comprometem membros do Governo de Evo Morales, do próprio governo brasileiro e seu respectivo embaixador em La Paz/Bolívia.



BRASILEIRO SE COMUNICA PELO SKYPE OU POR E-MAIL DO HOSPITAL. CONFIRA SEU DEPOIMENTO


“Meu nome é Jean Carlos da Silva, cidadão brasileiro e me encontro fora do pais sofrendo uma série de irregularidade as quais vou mencionar em seguida.

Tudo começou em 2010 quando eu fui convidado por uma empresa exportadora de madeira – Global Forest (empresa exportadora de madeiras atuante em 57 países nos cinco continentes), para vir trabalhar na Bolívia. Esta empresa já estava atuando na Bolívia desde 2005 com outros funcionários brasileiros. Com minha chegada e de minha esposa, pudemos evidenciar uma série de irregularidades que tais funcionários estavam fazendo no país. Auditores contratados pela Global Forest constataram vários pagamentos e retiradas de dinheiro injustificáveis e a partir deste momento os problemas iniciaram. Como a empresa/filial da Global Forest na Bolívia foi constituída no nome destes dois brasileiros, começaram as extorsões.

Um destes dois brasileiros – Jefferson Kill Cirilo e Claudiney Kolinski exigiam uma quantia superior a U$ 200 mil dólares por sua rescisão de contrato de trabalho, e disse que somente iria transferir a empresa que estava em seu nome para o empresário brasileiro caso pagasse os U$ 200 mil.

O dono da empresa – Anderson Giovani Rocha, apurou o valor devido aos funcionários (em torno de U$ 50 mil) e foi até a Bolívia para realizar o acordo. Como não aceitaram e não transferiram a empresa, ele formalizou uma denúncia contra os funcionários, que acabaram sendo detidos por ficar comprovado o desvio de dinheiro da empresa.

Foi neste momento que eu, Jean Carlos da Silva, entro na história, pois o proprietário da Global Forest me nomeia seu representante legal na Bolívia, para representa-lo nas audiências e para dar continuidade dos negócios neste país. E em decorrência destas denúncias feitas contra os ex-funcionários, condenados e cumprindo pena em detenção domiciliar, eles raivosos e sem conseguir o dinheiro pretendido, fizeram uma série de acusações graves contra mim, minha esposa e o dono da Global Forest.

No dia 08 de dezembro de 2012 eu e minha esposa fomos arbitrariamente presos por civis que diziam ser policiais da inteligência do governo, no aeroporto de El Alto, às 5 da manhã, quando fazíamos check-in para virmos ao Brasil participar da festa de 80 anos de meu pai em Blumenau (SC). Os policiais nos prenderam como se fossemos os piores bandidos, nossas malas foram abandonadas no aeroporto – inclusive deixaram por lá nossa cachorrinha. Apreenderam nossos documentos (brasileiros e bolivianos). Na delegacia um promotor apresentou um pedido de prisão preventiva, mesmo tendo comprovado que tínhamos emprego e residência fixa na Bolívia. Soubemos qual seria a acusação dias depois, recolhidos em presídio de segurança máxima. A denúncia formalizada pelo Ministério Público da Bolívia é que fizemos “USO INDEVIDO DE INLUENCIAS EM BENECIFIO EM RAZAO DO CARGO” (eu, minha esposa Carla e o dono da Global Forest) e outros 10 funcionários do governo boliviano -  ministros, vice ministros, advogados, juízes, promotores de justiça, policiais entre outros. Segundo o promotor, o dono da Global Forest utilizou influencias do governo boliviano para receber benefícios.

O que mais me chama atenção é que duas semanas antes da nossa prisão eu estive em Brasileia (Acre), cidade que tem divisa com a Bolívia sem problema algum. Nossas passagens aéreas para o Brasil haviam sido adquiridas em outubro, portanto jamais quis fugir do país, como agora alega o Ministério Público para manter-nos aprisionados.

Fomos levados a umas celas judiciais provisórias para aguardar uma audiência com um juiz que determinaria nossa situação legal. A juíza que estava de turno (por ser um sábado) se recusou a nos julgar porque a mesma também havia sido indiciada neste caso.

Transferiram-nos para a cidade de El Alto no dia 08 de dezembro à noite. O que nos impressionou e nos deixou assustados foi à forma desta transferência, pois existiam mais de 30 policias fortemente armados nos escoltando, como se fossemos bandidos de alta periculosidade internacional.

No dia 09 de dezembro o juiz de El Alto, por solicitação do promotor de justiça, determinou nossa detenção numa Penitenciária de Segurança Máxima, junto com condenados há mais de 20 anos por assassinato e outros crimes graves. Mesmo apresentando todos os documentos legais de regular funcionamento de nossa empresa, das contas bancaria com movimentação de 20 mil dólares, impostos recolhidos em dia (tanto da empresa como de funcionários), contratos de alugueis do escritório, do depósito das madeiras e domicilio meu e de minha esposa, o juiz nem se deu ao trabalho de verificar esta documentação apresentada.

Esclareço mais uma vez de que a acusação que estão fazendo contra nós é de: “USO INDEVIDO DE INFLUENCIAS EM BENECIFIO EM RAZAO DO CARGO”, que conforme o Código Penal deste País somente se pode ser acusar por este delito funcionários públicos.

No dia 10 de janeiro, ou seja, mais de um mês encarcerados, marcaram nossa audiência, em instância superior, pedindo liberdade provisória ou condicional pela prisão indevida. Foi concedido o benefício de prisão domiciliar  para minha esposa Carla. O que chama nossa atenção é que na resolução desta audiência os próprios juízes afirmam de que não podemos estar detidos por não sermos funcionários públicos, mas com dois pesos e duas medidas relaxam a prisão de uma e mantém a outra presa.

Depois desta audiência já se passaram mais de sete meses e continuo preso indevidamente, depois de solicitar a realização de quinze audiências onde reitero o pedido de liberdade e nenhuma audiência se conclui, pelo fato de que o Ministério Público e os denunciantes Jefferson Kill Cirilo e Claudiney Kolinski emperram o processo, pedem a suspensão da audiência por motivos fúteis, os juízes são substituídos. Já foram deferidos dois pedidos de habeas corpus mas nenhum foi cumprido.

Já recorremos a Embaixada Brasileira em La Paz, que deixou claro que nada pode fazer, que somos um numero a mais entre outros brasileiros presos na Bolívia e que a Justiça do país é desorganizada e nada podem fazer. Entretanto há um agravante pois a sogra do denunciante Jefferson Cirilo é promotora de eventos junto à Embaixada Brasileira na Bolívia. Um cônsul - que prefiro não mencionar nome neste momento, tentou mediar um acordo entre os denunciantes e meus advogados, pedindo que pagássemos U$ 2 milhões e tudo estaria resolvido e a denúncia seria retirada.

Pelo que percebo virei moeda de troca, quando pessoas do Governo Brasileiro e Boliviano querem tirar algum proveito econômico e politico disto tudo enquanto eu fico preso, sem direitos assegurados. A parte contraria, representada pelo Ministério Público, deixou bem claro na audiência de janeiro em frente aos juízes, depois que me pronunciei sobre as irregularidades da minha prisão, falaram que se eles sofreram eu também teria que sofrer.

Na segunda semana de agosto saiu uma resolução/sentença onde das 18 pessoas processadas inicialmente, 16 foram absolvidas e somente eu e minha esposa continuamos presos e processados, sendo que somos estrangeiros e não temos ligação alguma com o governo Boliviano.

Hoje me encontro internado em um centro clinico, sempre com escolta de policiais e algemado ao leito hospitalar,  por meu organismo não suportar tanto sofrimento:  estou com problemas cardíacos, falta de ar, pressão alta e problemas psicológicos de depressão.

Quero deixar claro a todos que de minha parte não existe nenhum interesse político muito menos econômico, pois era empregado da Global Forest, estava na Bolívia respondendo a ordens e fazendo todas as atividades dentro da legalidade. Podem verificar minha situação fiscal e bancária tanto da Bolívia quanto no Brasil que sou pessoa simples, honesta, que tenho quase nenhum patrimônio fruto do meu trabalho honesto.

Peço socorro às autoridades dos meus pais e ao povo brasileiro para que me ajudem a sair deste inferno que estou vivendo, porque uma pessoa só aprende dar mais valor ao seu país quando se encontra fora dele.

Tenho um grande temor em ficar nesta situação por até três anos, pois este seria o tempo legal na Bolívia permitido que uma pessoa possa permanecer presa enquanto é investigada pela prática de um crime – um absurdo e uma violação dos direitos humanos.



Rosane Martins com o embaixador da Bolívia,
Jerjes Justiniano, em 29 de agosto de 2013 


Jean e Carla, no Hospital, aguardando auxílio
das autoridades brasileiras



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